sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Homeless no aeroporto de Bruxelas


Quem voa de Ryaner sabe: poltronas desconfortáveis e voos baratos que chegam no destino ou muito cedo ou muito tarde. De Dublin à Bruxelas eu fui num dos muito tarde. Previsão de chegada na Bélgica: 23h30. Ok, se tudo der certo ainda tenho meia hora antes do transporte público fechar.
Ah, outra coisa sobre a nossa querida Ryaner, ela só voa de/para aeroportos pequenos que, na maioria das vezes, são afastados da cidade para qual o site da companhia aérea promete que você está indo. Nessa brincadeira você já soma ao dinheiro da passagem uns 20 euros para o ônibus – também da Ryaner – que te leva do aeroporto à estação central da cidade/destino final.
Era só o primeiro avião, a primeira cidade das sete programadas para o meu tão sonhado, programado e esperado mochilão. Eu ainda estava animada e aguentaria qualquer perrengue. Eu estava radiante por ter saído da casa do pequeno monstro. Qualquer problema eu enfrentaria rindo.
Saí de Dublin com a mochila nas costas e a Fer como companheira para essa primeira etapa. No dia seguinte a Grazi se juntaria a nós e seriamos as três doidas perdidas em Bruxelas e Amsterdam. Foi então que eu apareci com a brilhante idéia: já que a Gra vai chegar as 7h vamos passar essa noite no aeroporto e economizamos o dinheiro do hostel.
A principio a teoria pareceu ótima. Uma noite só. A gente aguenta 7 horas no chão do aeroporto. Tinham outros mochileiros pelos corredores. Ótimo, não eramos as únicas. Mas o tempo pareceu passar tão devagar. O chão foi ficando cada vez mais frio, o vento mais chato, e o barulho insuportável.
Dormir no sentido prático da palavra não aconteceu. Eu olhava em volta e via uns caras roncando. Como eles conseguem? Talvez tenhamos pego o pior canto, porque toda vez que a porta abria o vento vinha direto na nossa cara.
Tentei ler, ouvir música, conversar, nada me fez pegar no sono. Ainda por cima fui acordada duas vezes pelo mesmo segurança baixinho enfezado. “Dormir no chão não é minha noite ideal mas aqui estou e preciso de mais duas horas”. Balbuciei algo assim em português pro tiozinho que falava francês. Aparentemente depois das 5h você pode sentar no chão, mas deitar não. Horas desocupadas. Enquanto o único objetivo é esperar o tempo passar observar as pessoas passa a ser o único e divertido passatempo.
Na minha frente dormiu e roncou um cara. Criei um personagem pra ele. Ele é um argentino de 28 anos viajando pelo mundo todo com quase nada de grana. Ele fumou um beck antes de deitar naquele chão e só por isso conseguiu dormir feito um bebê.
Do meu lado esquerdo era a entrada principal. Por ali passaram árabes, italianos e um bocado de gente impossível de dizer só de olhar. O lado direito, depois da Fer, era pra ser a parede, mas tinha um “medidor de mala” da Ryaner.
Achei que ninguém fazia isso. Eu sei que a mala para ser considerada de mão precisa ter 55cm x 40cm x 20cm e pesar no máximo 10Kg, mas nunca vi ninguém conferindo isso. A minha mala mesmo tinha, sem sombra de dúvida, mais de 10Kg e eu viajaria com ela por mais 4 países. Bom, em Bruxelas TODO MUNDO enfia a mala naquele compartimento ridículo e usa a balança que estava do lado do meu “amigo” argentino e ainda se desespera quando tem algo errado.
Vi vários desesperados tirando coisas, enfiando na mala do amigo ou vestindo roupas. Dias depois eu entendi, no aeroporto de Charleroi eles checam mala a mala quando você faz o check- in. Coitada da Fer que teve de pagar pelo excesso de bagagem na volta, e sorte minha que não voltei pra Dublin com ela e continuei mochilando.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


Realidade, estou de volta.

O tempo voou. Quanto mais feliz eu estou mais rápido ele passa. Quando eu acho que vou conseguir fazer isso ou aquilo, os segundos já voaram e eu perdi o bonde. Há um tempo atrás eu estaria feliz vendo tudo correr ao meus olhos. Mas hoje não.
Parece que foi ontem que eu escrevi meu último post e coloquei a mochila nas costas. Isso foi há exatos 25 dias e eu fiz tanta coisa nesse ínterim que não senti os dias rolando, não me dei conta de que fiz aniversário de 06 meses de Irlanda, não percebi que tinha uma vida além do meu mundinho viajante.
Cai na realidade. Estou de volta a vida de doméstica/babá/secretária. Tenho esperança de que nessa nova casa tudo vá ser diferente e melhor mas, nem por isso, deixo de encarar como um trabalho, e a força dessa palavra já me dá uma preguiça, uma vontade de viajar de novo.
Falando sobre a viagem, eu e meu bloquinho companheiro temos muito o que contar. Eu dormi no aeroporto, na estação de trem, conheci gente interessante, pessoas estranhas e outras que poderiam ter passado desapercebidas, vi paisagens incríveis, neve, chuva, andei de bicicleta, sai de balada, fui expulsa de um hostel e fiquei doente.
É, foi muita emoção para resumir num post só. Cada lugar pelo qual eu passei merece uma história e Amsterdam merece no mínimo três. O grande problema é que eu praticamente psicografei letrinhas no caderno e agora tenho de decifrar uma a uma, lembrar dos detalhes e criar textos que traduzam não só os fatos, mas os sentimentos.
Mas, como minha vida real agora significa “no internet” (boa) durante a semana, só consigo fazer um post em cada final de semana quando eu vou para a civilização. Pelo visto vou passar o resto da minha estadia europeia só contando as minhas peripécias no meu primeiro mochilão.

sábado, 21 de novembro de 2009


Tristão e Isolda


A volta ao palco deveria ser com uma história sobre a difícil tarefa de planejar uma viagem, ou melhor, um mochilão. Estava adiando pensar no assunto por preguiça, falta de saco, mal-humor e até medo de não conseguir escrever da forma como eu gostaria.
Sem muito esforço o “bloqueio” foi embora numa das minhas noites de insônia. God bless the Internet. Sem esse conglomerado de redes não seria possível assistir a seriados, filmes e shows: minha companhia durante a madrugada.
O calendário/relógio do meu computador já advertia: 2h20am do meu último sábado como babá do pequeno monstro. Private Practice: checked. Greys Anatomy: checked. E agora? Nada do sono dar sinais de que estava a caminho. A solução foi caçar filmes gratuitos online.
Por sugestão de uma amiga, a pedida seria a história do Jean Charles, que até já comentei aqui mas não cheguei a assistir. A busca foi frustrada, mas no meio do caminho encontrei outro filme brasileiro que chamou atenção pelo nome: Romance.

Tudo bem que eu estou “fechada para balanço” e desacreditada de qualquer coisa relacionada a sentimento. Como uma boa canceriana (ainda romântica, mas lutando contra) o botãozinho “clique aqui para assistir o filme” piscou 100 vezes em todas as cores imagináveis.
Lá estava eu, inspirada pelo começo do filme que by the way, é uma mistura de cenas, fotos e poema que lembrou muito o meu TCC. “O nosso documentário é poético”, como diria minha amiga e companheira Vivi. Acho que foi exatamente isso o que prendeu minha atenção: a poesia.
Poucas pessoas conhecem a história de Tristão e Isolda, mas foi a partir dela que todos os épicos românticos nasceram. Até Shakespeare se inspirou na tragédia do século XII para escrever Romeu e Julieta.

Quando me dei conta de que o amor trágico entre o cavaleiro e a princesa Irlandesa, retratados lindamente por Letícia Sabatella e Wagner Moura, renderiam um post, peguei o pedaço de papel e a caneta que estavam mais próximos e me preparei para rabiscar ideias. Porém, num determinado momento eu já não escrevia mais nada, estava com os olhos fixos na tela do computador.

Fazia algum tempo que eu não me perguntava sobre o amor e o que dele é feito. “Sem sofrimento não há romance”. Será? Será que todo amor precisa ser como o de Tristão e Isolda? Será que não existe uma felicidade reciproca? Fácil?
Mas, como eu disse, estou definitivamente fechada para balanço. Minha dúzia de inquisições about this is done. I'm done. Minhas forças estão concentradas nas descobertas do mundo. Na maravilha que é perceber que existem pessoas diferentes, costumes completamente distintos e como eu adoro fazer parte de vários mundos.

Esse é o último relato dessa viajante (em todos os sentidos dessa palavra) por, pelo menos, 20 dias. Estou indo mochilar pela Europa. Bélgica, Holanda, Alemanha, Suécia e Noruega. Ufa. Foi doloroso mas o roteiro está pronto, foi uma tarefa difícil decidir quantos e quais dias em cada lugar, reservar hostels, transporte, calcular despesas e fazer a mala.
Depois do meu TCC essa foi uma das coisas mais trabalhosas e prazerosas que eu fiz: programar algo que me faria/fará feliz. Fechar as malas nunca foi tão emocionante. Ainda mais porque malas prontas é sinônimo de mudança e, nesse caso, no sentido físico da palavra, quando voltar a Dublin tenho um novo emprego me esperando, uma nova família e duas menininhas lindas para eu tomar conta.

A paixão há de ser como a noite................. eterna!”




terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mudança (s)

Um certo dia acordei e me perguntei o que eu queria da minha vida. Pasmem, eu não soube responder. Ou melhor, tinha muitos caminhos, muitos “se's”, muitas ideias e nadica de nada planejado. Para mim, que sempre fui a certinha que coloca tudo no papel, isso era inadmissível.

Pois bem, era! Acho que o ar do primeiro mundo está fazendo efeito e eu estou evoluindo. Estou me permitindo mudar de roupa, de discurso, de preferências, de decisões. Se até Plutão deixou de ser planeta a minha vidinha também pode “deixar de ser” ou “vir a ser” quando eu bem entender.

O que eu achei que seria o meu futuro hoje são páginas rabiscadas e eu não estou triste por isso, pelo contrário, os meios foram difíceis mas o fim se justifica. Ou melhor, o “recomeço” porque isso de nada tem haver com fim.

Estou exausta de tentar desvendar os motivos e sofrer por antecedência a cada acontecimento. Cansei de ser canceriana. Posso mudar para uma mistura de Áries com Leão? Mas só em alguns momentos porque quando o assunto é carinho quero a meiguice do câncer de novo.

Acho que o primeiro passo eu dei. Mudei meu segundo nome para “comunicação,”o que já me rendeu ótimos momentos. Já abri meu coração e já dei meu ombro. Estou ciente de que cada pessoa que passa pela minha vida deixa um bocadinho de lição. As vezes ruins (não repita!) e outras muito boas (posso copiar?).

Definitivamente a Ná que vai voltar para o Brasil (algum dia) não é a mesma que saiu. Eu já sei, por exemplo, que ninguém tem uma bola de cristal 24h por dia para saber o que eu estou pensando ou sentindo e que se eu não dizer/reclamar/contar ninguém vai adivinhar.

Eu perdi o medo de arriscar mesmo que a queda venha a ser grande. “Let it be”, já diziam os Beatles. Voltar para o Brasil em janeiro já ficou para história, viajar em dezembro no inverno europeu é ideia abandonada, continuar cuidando do pentelho tem prazo de validade, mudar-me para o centro é agora a prioridade.

“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher...... mas sou minha, só minha e não de quem quiser”. Estava finalizando o texto quando ouvi a Cássia Eller cantando esse trecho, e como a insônia tá braba hoje vale a pena mais um(s) paragrafo(s).

Ela ainda continuou cantando “Não penso em me vingar. Não sou assim...”. Acho que é exatamente essa a mudança que eu sinto em mim mesma. Ao mesmo tempo em que aprendi a valorizar minha liberdade, não esqueci minha raiz. Ainda acredito que as pessoas são melhores do que elas realmente são e ainda espero respostas, mas isso não consta mais na minha lista de pendências. Tem todo um mundo colorido na minha frente. Meus olhos estão abertos e a sensação é fenomenal.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Surreal

Faz mais de uma semana que voltei a realidade. E faz esse mesmo tempo que estou com uma página de um word improvisado aberta tentando escrever sobre minha experiência no Oktoberfest. Por que é tão difícil falar sobre isso? Cheguei a conclusão de que não há palavras que descrevam a mistura de sensações, culturas e loucuras que aconteceram por lá.
Eu até poderia contar o passo a passo. Aquela velha história de que saí de casa, entrei no ônibus, chegamos ao aeroporto, decolamos, chegamos a Munique, arrumamos um hotel, festa, cidade, comida, cama, banho, festa, fim dos dias pagos no hotel, noite na estação de trem, caminho de volta a Dublin.
Pronto, tudo num único paragrafo. Mas a viagem não foi isso. A começar que quase não fui. Acho que eu teria chorado da quinta ao domingo se não tivesse conseguido sair dessa fazenda. A culpa foi minha. Fui eu quem demorou a avisar que precisaria de um dia a mais de folga. Tudo resolvido, mala arrumada e ticket impresso. Aí vamos nós.
A primeira impressão foi a de que estava numa festa de bairro de Taubaté. Pois é. Tinha parquinho e barraquinhas com comidas típicas. Eu achei que estava numa festa junina do São João lá na minha cidade e só faltava a música popular brasileira. Foi aí que vimos os barracões.
Dentro daquelas tendas gigantes é que tudo se tornou estranho e incrivelmente maravilhoso. A festa era “da cerveja” e, apesar de ter aos montes, o intuito ia muito além do “ficar bêbado”. Fiz amizades com americanos, espanhóis, mexicanos, franceses, alemães e até palestinos. Foi uma troca de experiências, de modos de vida e de energia.
Sabe quando você pula, brinca, se diverte e sente como se fosse uma criança com um brinquedo novo? Eu queria subir naqueles bancos e só pular, pular e pular ao som de “i am prosting”. Foram quatro dias em que estivemos num universo paralelo, onde tudo era permitido e eu fui eu mesma com um sorriso gigante.
O saldo dessa brincadeira foi uma rouquidão de tanto gritar, uma gripe acompanhada de uma maldita herpes por culpa da noite no chão gelado da estação do trem, uma parceria querida, vários facebooks, fotos e uma sensação de quero mais e logo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Estar em vários lugares ao mesmo tempo? EU POSSO ;)

Vocês já devem estar cansados de ler aqui que eu acho, ou melhor, tenho certeza, de que em mim existem três ou mais pessoas. Pois bem, uma delas conseguiu sair do plano da imaginação e tornou-se real. Tá duvidando? Tenho provas! Rá!

Na madrugada de sexta, 25, para sábado, 26 de setembro eu fui carregada ao show do Monobloco em São Paulo sem ao menos perceber. Sério, tô falando! Modéstia a parte eu estava tão bonita, bem arrumada, maquiada (milagre!), cabelo escovado e vestidinho chic. Já disse para não duvidar. Continua lendo!

Ao mesmo tempo em que minhas três amigas queridas me passavam de mão em mão pelas ruas de São Paulo, eu estava no meu primeiro sono no apartamento de outra querida amiga em Dublin. Tinha saído na sexta, dançado até äs 2h pelos pub’s do Temple Bar, parado no Mc Donald’s para matar aquela larica. Conclusão, depois de muita risada e de estômago cheio fechei os olhos. Eram 4h da matina de sábado na Irlanda, 2h da madrugada no Brasil. Eu estava dormindo e esperando pelo ínicio do show do Monobloco at the same time! Ohhh, yes!

Eu dormindo nem desconfiava que a minha outra eu estava pulando ao som de “Uh, uh, uh que beleza!”. As minhas amigas disseram que eu fui a sensação da noite. Mas eu sou muito tímida, nem percebi. Um cara tentou me beijar, mas ainda bem que eu estava na mão da , não fazia meu tipo. Ela me salvou.

Claro que a Pri me fez beber cerveja. Ela esqueceu que eu não gosto de cerveja e me dava na boca. Ela é doida, eu sei! E o peguete da Ci me bateu, acredita? Homem batendo em mulher, que coisa feia! O pior foi eu apanhar e continuar rindo. Deveria ter devolvido o tapa. Hã! A única decepção da noite foi não ver o Sérgião Loroza.

Lá pelas 9h do sábado aqui na Irlanda, eu mudei de cama. Um amigo estava indo trabalhar. Sai da sala e fui hibernar na cama dele. Nesse exato momento a outra eu pedi para a Dri me esperar para irmos todas embora juntas do show. Pasmém, elas me esqueceram no banco! Desculpas aceitas, afinal de contas estavámos todas cansadas de tanto dançar. Elas até suavam, mas eu não, manti a pose até o fim.

Você ainda não acredita que eu estive em dois lugares

ao mesmo tempo? Tá aí a prova...



Brincadeiras a parte quero agradecer as minhas amigas queridas Jú, Pri, Ci e Dri que “me levaram” pro show do Monobloco. Elas sabem o quanto eu gosto da banda e o quanto eu queria realmente poder ser duas para estar lá com elas.

Nem tanto pelo show, mais pela companhia. Tudo com elas é mais divertido. É disso que mais sinto falta aqui do outro lado do oceano, as palhacices, os conselhos, as risadas, baladas, abraços.

Imagina as quatro carregando uma foto em tamanho A3 pelo show? Claro que todo mundo quis saber quem era, porque estava ali e etc. Quando vamos para shows não queremos nada atrapalhando certo? e elas estavam lá com “A Ná num pedaço de papel”.

É por essas e outras que eu tenho mais certeza de que eu tenho amigos de verdade e eles estão bem perto do coração. Obrigada mesmo meninas. Vocês são mais do que especiais e eu tenho certeza de que é para sempre!

PS: Ri muito tentando imaginar a cena de uma falando para a outra: “Segura a Ná você um pouco agora.” , ou “Abre a Ná, vamos tirar foto”. Awesome!



terça-feira, 22 de setembro de 2009

Viva la vida!


Pode. Não pode. Te levo até o parque. Posso te deixar no ponto de ônibus? Te arrumei uma carona. A carona não vai mais ao show. É hoje? Tinha esquecido. Não consigo te levar agora. Tá pronta? O George vai te levar até a cidade X onde você pega um ônibus até o parque.

“Olha, você pega qualquer ônibus que passar por aqui e rapidinho você tá no parque”. Depois de umas três vezes pedindo para o meu carona repetir, foi isso que eu captei no meio daquele sotaque irlandês. Bom, tem um MC Donald’s aqui na frente, qualquer coisa eu fico por aqui.

Ai, devia ter trazido meu iPod, esse ônibus ta demorando muito. Será que o George entendeu para onde eu tava indo? Acho que sim né?! Ele falou “Coldplay”algumas vezes, isso eu entendi. Tá vindo um buzão. “Hey, do you go to Phoenix park?”. Tava cheio de gente arrumadinha, acho que não sou só eu que vou pra lá.

“Você pode me avisar quando eu tiver que descer?”. Ele nem precisou falar nada, eu me dei conta que estavámos no parque e fui saindo do bus junto com quase todo mundo. Bom, e agora? Vamos seguir placas e o fluxo.

Eu quis ir arrumadinha. Coloquei um vestido, uma meia calça e um sobretudo. O show ta marcado para as 19h, não deve terminar tarde. Eram 19h e eu estava chegando no local onde estava o palco. O vento tinha conspirado contra mim. Estava mais forte do que nunca. Eu, ali sozinha, comecei a me perguntar “o que eu estou fazendo aqui”.

Preciso achar pessoas com cara de normais para me socializar. Anda para um lado, para o outro. Só tem irlandês estranho. To pertinho do palco, vou parar aqui mesmo. To de boas aqui, nem tem tanta gente, bom!

Ai que saco não começa nunca. Essa banda de abertura já deu. Chega! Me irritei com o vocalista perguntando toda hora “Are you ok?”. Sim,quando você sair daí e deixar o Chris Martin cantar vai ficar melhor ainda.

Começou o empurra-empurra. Eu estava errada, tem MUITA gente aqui. O espaço que antes era sussa, agora me faz dançar com as mãos grudadas no corpo. Vez ou outra levantava a mão para tirar umas fotos.

O que tá acontecendo? Onde eles estão indo? No meio da galera? Como assim? Agora não queria mais estar perto do palco, queria estar onde eles estão passando. Cadê a banda? É mais fácil ver pelo telão agora. Chris Martin com uma gaita na boca? Arrepiante!

“Look at the stars, look how they shine for you, and everything you do…” Yellow?! não acredito! Papéis em forma de borboleta começam a cair do céu, o Chris tem um guarda-chuvas na mão e eu tô aqui sozinha. Cadê a Jú? Preciso tirar uma foto para ela agora. Essa cena está maravilhosa!

Ok, o show acabou. Vamos gente, mais rápido. Ainda tenho que descobrir onde eu pego o ônibus de volta. Com certeza não foi onde eu desci, tenho que correr, o último ônibus é em 40 minutos.“Ei, seu guarda, você sabe onde eu pego ônibus para Dunboyne?” “Todos os ônibus são para a direita, vai andando”. Devia ter perguntado onde eu pego o CD que o Chris disse que estariam entregando no fim do show. Agora já foi, não posso perder o ônibus.

Esse foi o problema. Dunboyne não é para o mesmo lado do resto dos ônibus. “Ei menina, você sabe onde eu pego o ônibus para Dunboyne?” “É o número 70. Vai para a esquerda, no final do parque você vira a direita, aí na avenida você vira a direita, é ali.”.

Sabe aquele caminho todo que fiz dentro do parque para a direita? Então, refiz para esquerda pela lateral. Frio? Imagina. Tenho que correr. 10 minutos depois dos 40 que eu tinha para chegar ao ponto. “Não passa mais ônibus por aqui, o último acabou de passar”. Já passa da meia noite, não vou ligar para a Magda, né?! Mensagem é sempre a melhor solução, quem sabe ela não me busca aqui no parque.

“Já estou na cama. Você pode pegar um táxi?”. Essa era a resposta que eu temia. O táxi aqui em Dublin é super caro e se o cara não tiver GPS não vai conseguir nunca chegar na fazenda. Bom, vou dar sinal para esse aí. “Ei moço, você tem GPS?”. Ótimo, encontrei um motorista gente boa. Os 32,00 pela corrida vão fazer falta no final do ano, mas tudo bem. Eu vi Coldplay, quase chorei e cheguei bem.


Jú, para você!

sábado, 12 de setembro de 2009

Nem melhor nem pior, apenas diferente

Sim, eu vejo muita graça em passar um dia sozinha deitada no parque. Eu vejo o lado bom das coisas simples da vida. Eu acredito que quanto mais você ostenta algo que você não é, ou só algo que você tem, você permanece uma formiguinha. Não cresce, não se desenvolve e não deixa pessoas evoluídas ficarem muito tempo perto de você.

Essas pessoas te causam medo. Como assim elas não querem levar uma breja e fazer folia no parque? De vez em quando isso é legal também, mas não sempre. Colocar uma música no ouvido, deitar na grama, observar as pessoas, se conhecer. Isso sim é a magia da vida. Se curtir, adorar o momento você e você.

Eu não preciso de ninguém para me fazer feliz. Eu me basto. Eu vou sozinha ao parque, eu faço compras, eu dou risada a toa, eu aprendo uma coisa nova a cada dia. Eu estou disposta a errar e acertar quantas vezes forem necessário.

Eu sou uma pessoa comum. Eu tenho um milhão de medos e mais um bocado de exitações. Essa temporada fora do meu mundinho está me fazendo reconhecer todas as Natálias que existem dentro de mim.

O que eu gosto, o que eu não quero, pessoas que são importantes, pessoas que foram importantes, ansias, medos, desafios, decisões, paixão, liberdade, conquista. Enfim, estou usando o meu tempo só para mim.

A Natália gosta de chocolate, não vive sem um achocolatado de manhã e um pão com manteiga. Ela tem mania de passar o dedo, se enxuga de cima para baixo depois do banho, é mal-humorada todas as manhãs, tem tpm’s depressivas, é carente, um tanto quanto possessiva, odeia hipocresia, adora receber elogios, não suporta falsidade e fofoca.

Essa listinha tende a aumentar. Ainda tenho mais alguns meses, mais algumas aventuras myself. Não tenha medo de chegar perto de mim, a não ser que você seja o inseto que não pedala.