quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A pedra

Tem uma pedra no meu sapato. Incomoda, mas não chega a doer ou ferir. Ela está acomodada entre a meia e a sola, quietinha perto do calcanhar. Mas ela sabe se fazer presente.


Uma passo pra frente e ela se escorrega para a direita. “oi, to aqui” é o que ela ta querendo me dizer. Finjo que não é comigo. Melhor, né?! É só um probleminha pequeno mesmo, pra quê dar atenção?

Aí eu preciso apertar um pouco o passo e ela resolve botar as manguinhas de fora. Parece até que dobra de tamanho. Ela rola pra frente, pra trás, pro lado e pro outro simplesmente pra fazer meu pé sentir que ela tá ali e dali ela não vai sair.

Eu insisto em continuar vivendo, pensar em outras coisas. Posso até parar de andar, mas não vou me abaixar agora, tirar o sapato, procurar a tal pedra e jogá-la fora. Seria desperdício demais do meu tempo.

E ela sabe disso. Ela é esperta. Só aparece nos momentos certos. Sabe a hora de causar uma dorzinha. Enquanto eu não a sinto ela está pensando, maquinando, traquinando um plano maligno para fazer sangrar meu pé.

Acho até que ela deve estar se comunicando com outras pedrinhas organizando o ataque final. Daqui a pouco outras pedras vão pular no meu sapato, vão montar acampamento e me importunar até que eu tome uma atitude.

É isso o que ela quer. Só pode ser. Enquanto ela cutuca e machuca seu maior desejo é me fazer sair do salto, ter uma crise de nervos e arrancar o sapato no meio de uma reunião de trabalho para me livrar dela.

Ela quer me tirar do sério. Ela quer me derrubar. Mas, eu tenho uma vantagem. Eu sei que ela existe e sei exatamente onde ela está. Se eu não abaixei e a expulsei do meu sapato ainda é porque assim decidi fazer.

Paciência é uma dádiva que, felizmente, eu tenho. Alem disso não tenho medo de dorzinhas e incomodozinhos. Eu sei que essa pedra tem de ser expulsa do meu sapato, mas também sei a hora certa de fazê-lo.



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